Revolta

Moradores protestam pela falta de luz e Azonasul cobra da CEEE

Até o fim da tarde desta segunda-feira, mais 16 mil clientes ainda estavam sem energia elétrica na Zona Sul, sendo cinco mil só em Pelotas

Foto: Jô Folha - DP - Moradores protestavam enquanto funcionários da CEEE realizavam trabalho

Pelo menos 16 mil clientes da CEEE Grupo Equatorial estão sem luz, cinco mil só em Pelotas, segundo o boletim das 16h desta segunda-feira (17) publicado pela empresa, devido ao ciclone que atingiu a região entre quarta e quinta-feira da semana passada. Cinco pessoas morreram em decorrência dos fortes ventos, que atingiram 140 quilômetros por hora, em Rio Grande, e mais de cem quilômetros por hora em Pelotas. A vítima em Pelotas faleceu após realizar um serviço de poda, quando acabou atingido pelo muro da residência.

Segundo o Corpo de Bombeiros, foram 250 atendimentos (190 oficiais), sendo que 80% só de queda de árvores. Os estragos do vento e da chuva levaram 62 famílias a pedir ajuda à Prefeitura e uma precisou se alojar em casa de parentes, após avaliação da casa pela Defesa Civil. Do rescaldo, o que mais acumula prejuízos é a falta de energia elétrica, sendo que até a tarde desta segunda, havia moradores na região há mais de cinco dias sem luz. A demora pelo atendimento da CEEE gerou protestos, com bloqueios de rodovias e ruas, além de uma reunião da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul) com a Equatorial, em Porto Alegre.

Em um dos protestos, moradores da avenida Juscelino Kubitschek com a rua Urbano Garcia, no Centro de Pelotas, fecharam a via com cavaletes e atearam fogo em galhos secos no final da manhã de segunda. Cansados de esperar pelo atendimento da empresa, decidiram que o protesto seria a forma de chamar a atenção. "Desde quarta, antes da 18h, estamos sem energia. Liguei de hora em hora para a companhia e só diziam que estavam trabalhando na região, mas não víamos nenhum carro aqui. No prédio falta água, pois a bomba precisa de energia. Estamos carregando baldes para o vaso sanitário e tomando banho, nesse frio, de caneca. Tem duas famílias com pessoas acamadas e a situação está insustentável", desabafou o professor de Computação da Furg, Vinícius Pinto, 32. "Sabemos que não é serviço da Prefeitura, mas poderiam pedir por nós", reclamou. A manifestação surtiu efeito e depois de uma hora de fogo queimando, duas equipes começaram a trabalhar nos fios arrebentados.

Moradores da rua Branca Mazza, no Areal, estão indignados com o descaso da Equatorial que já esteve várias vezes no local e não resolvem o problema. "Só dizem que precisa do caminhão cegonha. E onde está o caminhão?" questiona a dona de casa Tatiane Oliveira, 43. Ela já jogou fora o leite das crianças e a carne que estava na geladeira cozinhou para os cachorros. "Acredito que esse serviço eles fazem em dez minutos, mas só tiram fotos e mais fotos." A vizinha Marli Marta da Silva, 61, disse que cansou de ligar e que antes da privatização, o serviço era bem melhor. O grupo pretendia realizar um novo protesto nesta segunda à tarde. O mesmo foi cancelado após uma equipe da CEEE Equatorial chegar ao local para tentar resolver o problema.

Perto dali, na rua 26, no loteamento Dunas, os moradores comemoravam o retorno da energia após quase seis dias sem luz. Um funcionário da CEEE disse à reportagem que conseguiram restabelecer a luz nas ruas 23, 24 e 26, sendo que a maioria dos atendimentos são fios rompidos que prejudicam o funcionamento dos transformadores.

O serviço, no entanto, não foi suficiente. Moradores das ruas 17, 18 e 19 protestaram na avenida Um do Dunas na tarde desta segunda. O comerciante Emir Oliveira ainda não calculou os prejuízos, mas já jogou fora muita carne de frango e sorvete. Por serem pontos isolados, a reportagem circulou pela cidade onde há relatos da falta de luz e observou que um funcionário da CEEE fazia o levantamento fotográfico da situação, fato que deixou muitos moradores irritados, principalmente pela falta de perspectiva de retorno da luz. “Ao menos poderiam nos dar uma previsão de quando vai voltar”, disse a merendeira escolar Priscila Amaro, que ficou sem luz até ontem ao meio-dia. A solução radical foi impedir o servidor de olhar a marcação do relógio até uma equipe resolver seu problema. O que não aconteceu, pois depende de um caminhão.


Demanda

A Assessoria de Comunicação da CEEE Equatorial cancelou uma entrevista por telefone com o superintendente, marcada para o início da tarde de segunda-feira com a justificativa da reunião da Azonasul marcada para as 17h (leia mais na página 10). Via Ascom, a informação de quais os bairros ainda sem luz, foi: “no interior do interior”, ou seja, na zona rural (leia mais na página 14). Isso inclui as Colônias de Pescadores, que passam a contabilizar as perdas com o descongelamento do pescado, principalmente na Ilha da Torotoma, em Rio Grande. A Emater está fazendo levantamento do prejuízo. Mas pelos diferentes locais de protestos realizados hoje, ainda são muitos pontos sem luz também na cidade (confira abaixo).

Sobre as manifestações, a empresa diz que o ciclone extratropical foi um fenômeno dos mais impactantes da história do Rio Grande do Sul. “Já reduzimos o número de clientes interrompidos de 715 mil para 15 mil em cinco dias. Houve várias quedas de árvore sobre a rede elétrica e, por isso, o trabalho tem que ser realizado em conjunto com as prefeituras. Estamos com mais de 500 equipes trabalhando e todos os casos em que houve manifestação foram atendidos”, diz a nota. A justificativa para a demora é que a solução das ocorrências depende da complexidade de cada caso e, para restabelecer o fornecimento, em algumas situações, há tempo adicional pela necessidade de serviços que envolvem equipes de outras instituições, como da Prefeitura.

A CEEE esclarece ainda que, em relação ao processo de fornecimento de energia, quando uma árvore cai sobre a rede ocorrem duas situações. Se a rede está sem energia, os órgãos da Prefeitura retiram a árvore de cima da fiação e em seguida acionam a companhia para a execução dos trabalhos. A CEEE não pode e nem tem equipes habilitadas a realizar retirada de árvores. Já quando a rede está com energia, os órgãos da Prefeitura solicitam o desligamento da rede, para que possam retirar a árvore. Ainda conforme a assessoria, as condições do solo também impactam na atividade das equipes, muitas vezes está tão encharcado que não é possível instalar postes, por exemplo. Em dois dias de chuva foram 135 milímetros de precipitação, o que recuperou a barragem Santa Bárbara em 2,5 metros, mas ainda está abaixo do nível normal (0,54 metro).

Já o levantamento fotográfico ocorre quando uma equipe considerada “leve” não tem condições de restabelecer a energia em determinado ponto, uma vez que dispõe de equipamentos para solução em situações mais simples. Então ela faz imagens do local e as repassa ao Centro de Operação Integrada (COI), que solicita a uma equipe “pesada”, com equipamentos necessários, a ida ao local, para reconstrução da rede e normalização do fornecimento.

 

Trabalho em conjunto

Dos 40 atendimentos diários, o Corpo de Bombeiros Militar, em Pelotas, já conseguiu reduzir para uma média de 25, desde o ciclone de quinta-feira. O primeiro-tenente Gilberto Alves da Silva Júnior informa que os estragos foram em toda a cidade, mas as localidades mais atingidas foram o Laranjal e Barro Duro, pela quantidade de árvores. Com o registro da única morte ocorrida em Pelotas em função do fenômeno natural - no domingo Luís Antônio Hartmann, 45, morreu após ser atingido por um muro enquanto podava uma árvore na avenida Minas Gerais, no Balneário dos Prazeres -, o militar alerta para os cuidados com esse tipo de serviço, embora a vítima tivesse experiência com o serviço. "Fizemos a remoção da vítima dos escombros. Pudemos constatar que ele estava efetuando o corte desse vegetal que estava escorado sobre o muro e, com o peso, conforme foi retirando os galhos, o muro acabou caindo", relatou.

O tenente orienta que as pessoas evitem realizar o corte por conta própria. "O que aparentemente parece ser simples, existem técnicas apuradas e o efetivo trabalha com todo o equipamento de proteção individual e coletivo, isolando locais. Na nossa atividade de bombeiro, essa é uma das atividades mais perigosas.” Ao todo, a corporação está com 12 servidores trabalhando em função da demanda de 80 pedidos de atendimento. Entretanto, como está havendo cruzamento de dados com o serviço da SQA, para não haver perda de tempo, o foco do trabalho é fazer uma vistoria nos locais chamados para a necessária intervenção. O tenente ressalta que, apesar de todas as críticas, o trabalho em conjunto com a CEEE é fundamental.


SQA atende mais de 120 chamados

A Secretaria de Qualidade Ambiental, pós-ciclone, deu prioridade para a liberação das principais vias da cidade e em conflitos com a rede elétrica. Até a noite de sábado já haviam sido atendidos mais de 120 chamados em virtude de quedas de árvores. Por atuar em conjunto com CEEE e bombeiros, ainda está compilando os dados dos demais órgãos para que se possa ter um panorama geral das regiões mais atingidas. A estimativa é que sejam mais de 300 árvores. Conforme o levantamento da Prefeitura, foram registrados danos em 34 escolas de Ensino Fundamental e 15 de Educação Infantil, duas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), duas instalações da Secretaria de Assistência Social e cinco abrigos em paradas de ônibus. Equipes da Prefeitura já trabalham no conserto dos estragos. O Município está constantemente em contato com a concessionária pela sala de situação online da Defesa Civil, apontando locais que necessitam atenção da empresa. E também foi reforçado diretamente com a direção da CEEE-Equatorial o pedido para agilizar a retomada do fornecimento de energia.


Pontos de manifestações entre domingo e segunda

Pelotas

- Avenida Juscelino Kubitschek com a rua Urbano Garcia - Centro

- Rua Gomes Carneiro, entre Xavier Ferreira e Dona Mariana, Porto

- Rua São Paulo, na Santa Terezinha

- Rua João Jacob Bainy - Três Vendas

- Avenida Um, com rua Dezoito, no Dunas

- Recanto de Portugal, Laranjal

- Rua Tiradentes, próximo a Manduca Rodrigues - Centro


Rio Grande

- BR-392 quilômetros zero, três, 26, 30 e 51 em Rio Grande

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